CRIMINALIZAR PARA PUNIR
A pesquisadora e professora Ana Idalina Carvalho Nunes lançou, no dia 19 de agosto último, o livro que traz sua pesquisa realizada dentro do presídio de Cataguases entre os anos de 2012 e 2013. Com o título "Criminalizar para punir: a dinâmica de neutralização da juventude pobre e negra no Brasil", o livro traz um estudo sobre o sistema punitivo através dos tempos, traçando uma análise dos efeitos das políticas econômicas sobre o encarceramento de jovens pobres no Brasil, fazendo um recorte na situação de alunos que cursavam a escola prisional de Cataguases entre os anos de 2012 e 2013. O coquetel, preparado pela Tudibom - cozinha artesanal, de José de lelis, contou com a presença de diversas autoridades, entre elas o secretário Municipal de Educação, José Fernando Milani, o Secretário Municipal de Cultura, Fausto Menta, A supervisora da escola prisional, Elaine Rafino Silveira, além das professoras Lígia Siqueira, Luciana Nazar e Valéria Dias. Esteve também presente agente de segurança e acadêmico em Direito, Eduardo Carvalho, a coordenadora do programa AdoleSer, Ana Maria Dias, a assistente social Evelyn Moreira, da cidade de Juiz de Fora, dentre outros convidados ilustres e familiares da autora. Confiram as fotos do evento.
Emerson Soares Albano, um dos que participaram da pesquisa, hoje é atleta do jiu-jitsu, consagrado campeão de vários torneios no estado do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Aliás, o epílogo do livro foi assinado por ele, que fez questão de contar de maneira breve, a sua história:
A
HISTÓRIA DE UM CAMPEÃO
Emerson Soares Albano”
Meu
nome é Emerson Soares Albano, nasci na
cidade de Leopoldina, dia 16 de setembro
de 1988. Venho falar sobre uma parte da minha vida, como acautelado do Presídio
de Cataguases.
Em
2008 eu trabalhava de ajudante de pedreiro e fazia ‘bicos’ de montagem de som e
como segurança, trabalhando em várias cidades da região. Durante essas viagens,
eu conheci bastante pessoas, fazia
bastante amizade com pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida. No ano
de 2009 comecei a trabalhar na cidade de
Astolfo Dutra, onde eu conquistei muitas amizades boas e ruins. Ali conheci a
minha esposa, com quem moro até hoje. Depois de anos, comecei a trabalhar numa
fábrica de doces em Cataguases, foi onde tive minha primeira oportunidade de
trabalhar de carteira assinada.
Com
o passar do tempo, as coisas vieram apertando, com o nascimento da minha filha
Emili. Os ‘bicos’ foram acabando e as contas aumentando. Então conheci um amigo
em Astolfo Dutra, sabia que ele fazia algo errado e por causa disso ele se destacava no meio da rapaziada. Um cara
bacana, boa pinta, mas aquele jeito que acha que é esperto, mas de esperto ele
não tinha nada.
Comecei
a me envolver, ele começou a trabalhar comigo. Via ele vendendo uns ‘papelotezinhos’,
um aqui, outro ali, e fui vendo que era
fácil fazer aquilo ali naquela cidade. Passaram-se dois meses e comecei a
vender maconha e cocaína, e trabalhava também na fábrica com carteira assinada.
Com o passar do tempo, fui desanimando de trabalhar e fui ficando só por conta
do tráfico de drogas, porque ali eu tinha mais recursos (assim eu achava).
Abandonei meu emprego e minha família, meus verdadeiros amigos se afastaram de mim,
pois eu estava igual a um bicho. O poder foi subindo na mente, comprei moto e
carro, já estava achando que era dono do mundo, conheci várias garotas, eu
estava cego pelo poder do tráfico. Tudo o que eu queria eu tinha.
Até
hoje eu tento entender por que me envolvi. Depois de dois anos traficando, a
casa caiu. Fui preso dia 5 de novembro de 2011e aí eu enxerguei o que significava
a palavra família. Amigo de verdade é
aquele que nunca te abandona na hora em que você mais precisa. E eu precisei
muito, fiquei preso de novembro de 2011 a setembro de 2014, tempo em que eu vi outro mundo, vivi outra vida, passei por
muitas fases difíceis. Na prisão o tempo não passa. Conheci várias pessoas de
várias cidades do Brasil, algumas que ajudavam e outras que não me deixavam
prosseguir. Foi muito difícil, mas minha mãe Ana Nery, minha esposa Lenir e
minha filha Emili me visitaram durante todo o tempo em que estive preso.
No
presídio eu estudei e terminei o ensino
médio. Algumas empresas dão oportunidade
de trabalho para quem está preso e foi o que aconteceu comigo. Surgiu
oportunidade de emprego num supermercado da cidade e eu me agarrei àquela
chance para mudar minha vida.
Eu
trabalho no mesmo supermercado até hoje.
Tornei-me um atleta do Jiu-Jitsu e hoje sou campeão Pan-americano (2015)
e Sul-americano (2016) do torneio de
Jiu-Jitsu de Niterói (RJ). Também sou campeão do torneio “Rei do Tatame”(2016)
da cidade de Mar de Espanha (MG) e, graças a Deus, sigo uma vida feliz com
minha família.
*Emerson Soares Albano foi aluno da Escola Prisional e participou da pesquisa que originou este livro. O relato de sua história vem mostrar os elementos que podem explicar a situação vivida por inúmeros jovens que estão hoje encarcerados. Mostra a importância do trabalho na reintegração social e aponta para a necessidade da abertura de mais vagas nas empresas para aqueles já cumpriram suas penas e buscam a chance do recomeço. Acima de tudo, a história de Emerson é uma história de persistência e superação, de determinação e disciplina, que emociona a todos nós que o conhecemos durante o seu período de reclusão e que torcíamos pelo seu sucesso.
Saiba mais sobre o livro no site: https://estudosobreocarcere.wixsite.com/idalinacnunes
Para adquirir o livro, entre em contato pelo e-mail: idalinadecarvalho@gmail.com
Preço: 30 reais
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