Marcus Marchiori e Ludmila Fam |
Nascido em São João Nepomuceno (MG) no dia 28 de
fevereiro de 1976, filho do teatrólogo José Luiz de Carvalho e da professora
Sueli Marchiori Nunes, casado com a jornalista Ludmila Fam, Marcus Marchiori é um escritor que retrata a subjetividade
do cotidiano em palavras que, dentro do texto, ganham novas nuances que tocam os sentidos do leitor. A impressão que se tem é a de Marcus Marchiori não é um escritor como todos os outros escritores - mas um andarilho sem pressa que, de tempos em tempos, para na beira da estrada para apontar detalhes que passam despercebidos aos sentidos de pessoas apressadas que buscam enlouquecidas o que está no exterior, quando na verdade o sentido está dentro delas mesmas. É com os olhos interiores que Marcus Marchiori percebe e denuncia o mundo à sua volta.
Em entrevista ao blog Chá com Leitura, Marcus
Marchiori relata que começou a escrever na adolescência, motivado por uma
professora que percebeu sua veia literária. O fato ocorreu em 1991: “fiz uma redação com o título" O
Inverno" , minha professora elogiou tanto, que eu até acreditei que
poderia mesmo estar bom”, conta Marcus que, em um bate-papo descontraído, nos
deixa entrever um pouco mais de sua personalidade:
“O que me move é a vontade de tocar as pessoas,
textos são como sementinhas que podem fazer as almas florescerem. Gosto de rock,
e bem pesado, gosto de tudo que é novo. Nas horas de folga eu gosto de
conversar, meu trabalho exige muita atenção, eu fico em silêncio mais de dez
horas por dia e, quando estou de folga, disparo a falar. Gosto de Piet Hein, o poeta
que veio do frio.
Meu processo criativo é furacão. Quando paro pra
escrever tenho sempre a mente vazia, digito a primeira frase e o resto vem
depois. Costumo inverter o sentido, deletar a maioria das coisas e depois
ordeno tudo com o mínimo de palavras possíveis. Tudo no máximo em 30 minutos -
se demorar mais eu desisto e parto pra outro texto. Meu pai era um poeta ,
escritor, diretor de teatro, meu ídolo maior. Eu apenas tento ser um pouco dele”.
A SORTE
A sorte é que eu nunca tive sorte! Desejei voar, desejei ser um super
herói quando era criança. Se tivesse conseguido, eu não teria caminhado,
eu não teria conhecido meus amigos de infância. Depois desejei ter tudo e,
azarado que sou, acabei não conseguindo quase nada. Uma bicicleta velha
e um par de calçados que não me permitiam ir muito longe. Se tivesse
ido, eu não encontraria o acolhimento que
encontrei em minha vizinhança.
Logo depois, na adolescência, um edema
cerebral me fez trocar de colégio. O azar de adoecer me fez encontrar
amigos que guardo até hoje. Desejei ter um bom emprego, mas dei azar e
meu patrão não me entendeu. Se tivesse me entendido, eu nunca teria aberto
minha empresa. Queria ter saído de casa. Se tivesse saído não teria
curtido meu pai até o último momento.
O azar sempre foi meu
companheiro. Fiz dele o avesso. De vez em quando me perguntam se eu sou
sem sorte mesmo. Não sei! Não sei mesmo! Só sei que tudo que eu quis
não foi do meu jeito. Não seria mesmo. Azarado que sou, nunca consigo o
que eu quero. Será que é falta de sorte? Ou será que a gente não consegue
ver... que até o azar costuma nos levar para o caminho certo?
CASAL DE NAMORADOS
Daqui
da minha janela eu observo, às 21:30, um casal de namorados. Daqueles
que tem hora marcada para voltar pra casa. Para eles, o sofá é o chão da
escada. Poderia ser uma calçada ou simplesmente uma parede para
encostar. Para eles não importa o lugar, os corações ainda estão moles.
Existe neles a pureza e a inocência e, acima de tudo, a simples vontade
de ficar. O tempo vai passar, eles irão abandonar
a escada e a rua não mais será um bom lugar. Neste momento, justamente
neste momento, seus corações também irão mudar. É que a idade tem a mania
de amolecer tudo ao nosso redor. A escada vira sofá, o chão vira tapete, a
parede vira almofada. Por que então perdemos o entusiasmo? Por que
perdemos a pureza e a inocência? A culpa é da idade! Ela tem a mania
de amolecer tudo ao nosso redor. Pena que esta mesma idade tenha também a mania de endurecer nosso coração!
PAPAI NOEL EXISTE?
Poxa,
Papai Noel, na pós infância eu fiquei pau da vida quando descobri que
você era pura ficção, que nunca iria apertar sua mão ou dar uma voltinha
em seu trenó. Mas de uns tempos pra cá eu voltei a gostar de ti. Como
pode, alguém que não existe, unir tanta gente, semear o perdão,
reconciliar famílias, matar a fome, arrecadar tantas doações e
sensibilizar tantos corações? Papai Noel, você é uma unanimidade. Papai
Noel, você não existe! Acho que é por isso que consegue fazer tudo
isso. Se você existisse seria diferente.Você seria simplesmente o Papai
Noel! Um cara louco que anda só de botas, com uma roupa vermelha, barba branca e um saco nas costas.Você não existe! Ainda bem que não
existe, se existisse seria perseguido, achincalhado e destruído. Digo
mais, Papai Noel, seria bem possível que fizessem contigo o que fizeram
com "aquele cara do crucifixo"! Aliás, a data é pra comemorar o quê
mesmo? Se Papai Noel não existe, por que então não fazemos o
Natal existir o ano inteiro?
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