quarta-feira, 2 de março de 2011

JORGE CARRANO: rasgando a alma, sangrando o papel

Por Idalina de Carvalho

      Publicitário e poeta, o paranaense Jorge Carrano foi, desde cedo, um observador a serviço da palavra. Morou no Rio de Janeiro, onde participou ativamente de festivais de música e teatro, e também de movimentos de vanguarda que agitaram o meio estudantil da época.
      "A centaura e a esfinge" é o título do livro que o poeta está lançando em 2011, uma reunião de poemas caracterizados por diálogos amorosos com o feminino, onde o poeta é alma ocupando corpos diversos, derramando sensações que arrancam suspiros dos românticos.
    A influência musical imprime um tal ritmo e sonoridade aos poemas, que faz de "A centaura e a esfinge" uma melodia (ou um musical?) dividida(o) em atos, cada um deles contando um caso de amor bem ou mal-resolvido.
    Confira abaixo três poemas do livro "A centaura e a esfinge":
    ANALOGIA

Gosto...

gosto muito

de te ver dormir.

Pele, seda de lingerie,

brisa sobre pêlos, e te cobrir.

Gosto...

gosto muito

de te guardar

o sono, o sonho, o acordar,

o cheiro da noite passada,

um cheiro do amor,

um gosto de amar.

Gosto...

melhor,

quero muito te revelar.

O quanto meus olhos são espelho

quando te vêem dormir

e tranqüilizam minh’alma,

até o outro dia,

quando te vêem acordar.

Gosto ...

do gosto de brincar,

do teu cheiro de fêmea,

da cama que sempre cheia

como a lua, embriaga e sacia

com todo esse jeito de amar.

***


ENTARDECER

Esse facho de luz do fim da tarde

Que, certeiro, descobre e invade

essa tênue pele - seda dourada.

Essa luz rebatida no seu doce corpo alado,

nesse silêncio combinado

em que descansas à exaustão.

Esse teu sorriso criança.

Ah, como me embriaga esse colo menino,

com traços sutis de pecado,

vou roubar essa visão!

Decolo em total turbulência,

sou escravo!

Essa beleza, sua presença.

Esses longos pêlos de deusa,

que me invadem moleques,

as faces do entardecer.

***

LUAS GÊMEAS

Gêmeas.

Soberbas delícias

que da alma às vísceras,

trazem arfantes

gritos!

Rios que desaguam férteis

correndo nos ventres

que se encontram

aflitos!

Peles,

ventos de arrepio,

poros, pelos, suores

sussurros de calafrio.

Seu curso vindo

enxurrado,

vivo de carícias

teus corpos macios.

Belas de todas as tardes

de todas as luas,

pungentes,

num momento único.

De larvas...

macio!



2 comentários:

Unknown disse...

Vi no seu perfil o interesse por literatura, por isso deixo aqui o convite para que aceda ao meu blog. Talvez goste. Abraço.

Alvaro José de Arruda disse...

Parabens pelo blog, é ótimo! Fique à vontade para visitar meu blog. há postagens que talvez te interessarão, pois seu "gosto" pela literatura é refinado. Talvez o postagem "nova poesia marginal" lhe será util
http://semioticaeminimalismo.blogspot.com/