quinta-feira, 1 de abril de 2010

O OLHO DAS ÁGUAS - novo livro de Edival Perrini

Por Idalina de Carvalho


Publicado no final de 2009, o mais recente livro de poemas do curitibano Edival Perrini é uma obra-prima em todos os aspectos. O projeto gráfico de extremo bom gosto  marca a publicação com uma beleza incomparável que, no entanto, não se iguala à requintada poesia caracterizada pela concisão e pelas metáforas capazes de levar ao êxtase quem lê, permitindo um mergulho no mar interior - por vezes de água morna e viscosa, por outras de água fria a arrancar arrepios – contido em suas oitenta páginas.
São poemas que oferecem ao leitor um universo infinito de possibilidades, independente do foco de sua leitura,  tornando gratificante a tarefa dos que se atrevem à análise literária e  proporcionando aos que se arriscam às profundezas das águas, a possibilidade de sentir  o que reside por baixo do visgo que torna o fundo de seu mar “molhado e liso e fofo e alado: o pulsar de uma linguagem encurralada por sinais que denunciam sutilmente “um mar dentro do mar” humano,  ora incontido no seu desejo:

Por frestas,
toco a luz que se escancara
para além destas treliças.

Por farpas,
tenho gotas de oceano
e sede, e sede,
e sede.

ora sublimado na sua condição de elemento ou ser da natureza, com a sina de nascer e morrer:

A manhã
espessa de orvalhos
grita.


À tarde,
passo a passo,
recolho travas.

Anoiteço
leve
como um quintal.

e, por fim, surpreendido pelo renascer imprevisível e contínuo da vida natural que pulsa nos rios, nos mares, nas veias:

Entre o ver
e a certeza de que você está,
há um poço de prazer
e sobressalto.

No assalto deste instante
distraído mareante
me abasteço.

Eu que sou o pedaço,
o bagaço,
solitário caroço abjeto,
com você
fruto completo.

Poderia aqui, pelas janelas que a leitura  abre, me alongar por muitas páginas comentando a estrutura perfeita dos escritos desse poeta, mas nada é mais instigante do que, como leitora apenas, me deleitar com a sensualidade natural e isenta de pecado de O olho das águas, um livro que prima pela sofisticação dos signos, da linguagem e da estética, oferecendo a quem se propõe a lê-lo a sensação de “Fazer-se ao mar como quem se joga num abraço, e respira”.

Confira alguns poemas de O olho das águas:

ENTRESSAFRA

O silêncio gesta o poeta
como a palmeira suas palmas.

Não há vento.

Falta uma senha que empurre,
entranhas afora,
a poesia.

sua palavra
chegou-me brisa,
e no aul
o céu era um pássaro

tocado,
nada desconfiei
e até inventei
amoras e especiarias

nada havia de convulso
ou obtuso,
até que desfaleci
na ventania


ESTRELA

Penetrar
a lua nova
pela linha do horizonte.

Depois,
aguardá-la sobre o mar
plena de enigmas.

O VENTO E A ACÁCIA

O vento mete-se por debaixo da acácia
busca intimidades,
estremece raízes.

Bailarino,
planta-a no ar
como se a árvore
fosse uma ideia,
uma raia,
uma boa-nova.

Depois o vento vai embora.

Do amarelo vértice
novo
(soluços da acácia sobre o chão)
permanece o espanto.

O vento borrifa de sal o rosto do bairro.

 * Para saber mais sobre Edival Perrini, visite http://www.edivalperrini.com.br/
Pedidos deste livro para: edivalperrini@onda.com.br

Idalina de Carvalho é editora deste blog