quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fernando Abritta e a poesia de "umÁrvore"

Por Idalina de Carvalho

O nome de Fernando Abritta é bastante representativo em Cataguases,  especialmente para quem conhece a história dos movimentos culturais que levaram e continuam levando o nome da cidade por todo o país. Desde a década de 20, com a revista VERDE  e o movimento modernista, escritores e poetas dão prosseguimento a esse efervescer constante da arte em Cataguases.

Quando o conheci, em Juiz de Fora, não imaginei que aquele Fernando de Cataguases fosse o mesmo que assinou a capa do livro "Marginais do Pomba", antologia de poetas cataguasenses, organizada pelo grande mestre Joaquim Branco na década de 70. Apenas quando recebi o convite para o lançamento de "umÁrvore",  foi que relacionei o nome à atividade e foi uma das surpresas mais agradáveis deste ano de 2010.

Não havia ainda tido oportunidade de conhecer sua poesia e ainda não li o livro, mas a amostra contida no convite do lançamento - marcado para o 22 de julho próximo em Juiz de Fora - mais a apresentação de Tiago Adão Lara na orelha, e os comentários de Joaquim Branco e Luiz Ruffato, me fazem ficar roxa de vontade de penetrar no universo de "umÁrvore" e enxergar o poeta e sua arte.


                                         

No meio do vale
uma árvore

beirando a estrada
cercada
de capim
braquiária invasora
a árvore
resiste

umárvore
sentinela plantada
cavalgando ventos
barrando águas
tempestades
florindo
frutificando
semeando

No meio do vale
umárvore
guerreira avançada

ao fundo
nas grotas
nas dobras dos morros
muitas outras
apertadas
disputando sol  solo
contidas
por
arame farpado foices e fogo
esperam
olhando o vale
os bois
a erva invasora
cobiçando

Umárvore
parada plantada
enraizada
insiste na florada
cada fruto uma arma
sementes soldados
: largar raízes
teimando tentando dementes insistentes

No meio do vale
umárvore
r existe.

                         
COMENTÁRIOS
Tiago Adão Lara (texto de orelha do livro)

 Para a orelha deste livro teria sido preciso ourives perito, que trabalhasse as palavras como se trabalham o ouro e a prata, no fabrico de um brinco.

O que vingou, porém, na escolha, foi a incoerência da amizade. Então, ousei.

Fernando Abritta, seu livro me fascina. É casa encantada. Tem sótão e porão, corredores e escadas. Tem quartos escuros, cozinha e despensa, cheirando café a torrar.  A casa tem terreiro e quintal, onde cantam os galos e as galinhas cacarejam; esvoaçam canários, tico-ticos e andorinhas. Daí se ouvem cantos  de índios, danças de negros, a vida toda das Minas Gerais e do Brasil.

Seu livro, Fernando, faz bem: instrui, deleita, educa. Ia me esquecendo, enamora-nos perdidamente das ÁRVORES.

COMENTÁRIO
Joaquim Branco*

Já comecei a leitura. Estou na página 14 e venci-as com grande prazer, fazendo várias linhas de leitura, entre elas a de descobrir ali as pegadas do desenhista, homem ligado ao traço. Depois, fiquei apenas na música que o texto me proporcionava e fui pegando carona em jangadas, carros de bois, menos a pé (que eu gostaria, mas não posso). Isso pra dizer que estou gostando muito da viagem em que seu livro me meteu.
*www.joaquimbranco.blogspot.com

COMENTÁRIO
Luiz Ruffato

Li umÁrvore com carinho e com a devoção que devemos à poesia, arte maior. Você conseguiu algo invejável (eu invejo, aquela inveja saudável, de amigos): construir um poema narrativo, que é ao mesmo tempo lírico, histórico (épico) e dramático... E falando de um assunto que, sinceramente, poucas vezes vi bem resolvido, a inserção de preocupações sociais, ecológicas e políticas, sem em momento algum abandonar o discurso poético, esse sim, com a sua capacidade de incendiar as imaginações.



Idalina de Carvalho é editora deste blog.