quinta-feira, 28 de agosto de 2008

WILMAR SILVA



Nascido nos cerrados de rio Paranaíba, interior do estado de Minas Gerais, Brasil, na noite de 30 de abril de 1965, filho dos lavradores Antônio Sezostre e Ovídia Ribeiro, Wilmar vive em Belo Horizonte desde 1986, onde trabalha com poesia.


Livros publicados:
"lágrimas & orgasmos" (1986), "águas selvagens" (1990), "dissonâncias" (1993), "moinho de flechas" (1994), "cilada" (1997), "solo de colibri" (1997), "çeiva" (1997), "pardal de rapina" (1999), "anu" (2001), "lágrimas & orgasmos" (2002 - 2ª edição), "arranjos de pássaros e flores" (2002), "cachaprego" (2004), "estilhaços no lago de púrpura" (2006).


Participação em antologias:
"Antologia da nova poesia brasileira", organização de Olga Savary;
"A poesia mineira do século XX", organização de Assis Brasil;
"fenda - 16 poetas vivos", organização de Anelito de Oliveira;
"pelada poética", organização de Mário Alex Rosa.


Prêmios:
  • Prêmio Jorge de Lima de Poesia da União Brasileira de Escritores, 1992, Rio de Janeiro, Brasil.
  • Prêmio Blocos de Poesia, 1997, Rio de Janeiro, Brasil.
  • Prêmio de Poesia CentenárioCarminha Gouthier, 2003, Academia Mineira de Letras.
  • Prêmio Capital Nacional, 2005, Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Aracaju, Sergipe.


Organizou:
  • CD "oise", projeto imaginário de vozes, 2004;
  • Antologia "O achamento de Portugal", 2005;
  • Prêmio "Aires da Mata Machado", versão 2005/2006;
  • Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, 2005;
  • Catálogo/antologia "terças poéticas: jardins internos", 2006;
Como ator, dramaturgo, performer, encenou:
  • "a serpente", 1995;
  • "vestido de noiva", 1996;
  • "cilada", 1997;
  • "pardal de rapina", 1999;
  • "desmarcado", 1999;
  • "afrorimbaudelia", 2001;
  • "cilada", 2000/2001;
  • "glaura", 2003;
  • "solo a solo", 2003/2004;
  • "poemas de corte", 2004;
  • "cachaprego", 2005/2006;
  • "subida ao paraíso", 2006;
  • "ais", 2006/2007.
Criou os vídeopoemas: "pardal de rapina", "invenção caipira", "anu", "cachaprego", cd "v".
Wilmar Silva tem poemas publicados em vários jornais e revistas do Brasil, Portugal e Itália. É curador do projeto de poesia "terças poéticas" - realização da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais através de parceria entre Suplemento Literário do Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado, em Belo Horizonte.
Confira poemas do livro "Estilhaços no Lago de Púrpura", de Joaquim Palmeira, seu heterônimo.


há uma redoma com um dialeto indizível em mim -
um idioma com um segredo de um cavalo no córrego,
sou este corcel/ eu um corço entre avestruz e
seriemas, sou esta ema com onze penas de pavão
/ um tupi com a miséria de um carneiro, eu
que venho trazendo uma fauna e uma flora/
eu e minha fazenda de poemas a seus pés,
unhas, joelhos, coxas, bichos-pau, paus/
subo o corpo que me escorrega, sou lívido,
um lúbrico na libido de quem diz: nao nos
mas o que faço eu com esta seiva no sangue?
***
devasso como um cavalo no pasto sem égua,
quem é você que diz calado cavalgar a noite/
e cavalgar a noite é como cavalgar os poemas
que escrevo com sangue neste lago de veneno/
é minha esta corrente de púrpura de sangue/ eu
sou esta represa onde peixes nascem da terra,
no ermo eu sou esta ave ferida de verde/ eu
caço você e caço a face e caço a alma, eu
o mesm com lágrimas e orgasmos, uma íris,
umas retinas para trazer os olhos à tona/ eu
este wilmar silva que vira cavala eu cavalo
***
Saiba mais sobre Wilmar Silva:




quinta-feira, 7 de agosto de 2008

JÚLIO POLIDORO


A POESIA DE JÚLIO POLIDORO, ou DETRÁS DA PORTA




Carlos Nejar


O poeta Júlio Polidoro, da geração de Juiz de Fora, que se constela de tantos criadores, com voz luminosa no Brasil, já tem um caminho, que "andando se fez", no dizer do universal Antonio Machado. Sua poesia guarda sotaque singular, que determina os que duram, além da vigília.


Domina todos os ritmos com a qualidade silenciosa de se deixar também guiar por eles. Porque a sombra na poesia há que ser do tamanho de sua palavra, para que o mistério se expanda. Não é um versemaker a mais, que invade e polui ou disfarça este nosso tempo que continua a ser "de homens partidos", fragmentando-se o poema, por se fragmentar a vida. É alguém que utiliza o verso e alcança a poesia, com a alavanca que move os sonhos. Não esquece jamais que o tempo é linguagem e que linguagem é tempo, com Minas da alma, seguindo tradição e ruptura, signo de identidade. Mesmo não se desligando da música, "a que aspira toda a arte", segundo Pater, cria a partitura também dissonante e atonal. Basta ler seus inventivos sonetos, alguns antológicos, para sentir que é a capacidade de Ícaro, que faz o sol mais perto. Estes versos são emblemáticos de uma poética que tenta assumir, corajosamente, a realidade, sem o véu do que esconde. É no ato de assim se esquivar, que a revela: "Não há que erguer o véu, buscar resposta / nem há o corpo longe que perdi / mas onde a porta por detrás da porta?" E o soneto que começa: "eu sei, mas por saber sei que estou parco" e finda (se é que conclui): "no gesto de perder, que não consinto, / me enleia alguma teia que não teço."


Não se perde no jogo dos vocábulos: usa o ludismo sempre buscando sentidos possíveis da raíz humana. Seu "coração ruidoso" se contém nas "astúcias" que prendem o leitor através de lapidares centelhas, atiçantes no fogo de palavras: "É a flor / que me alimenta" (...) "se a fala tem muitas e nenhuma direção" (...) "ah, eu me detive hoje, / mas meus pés seguiram" (...) "Martelo é uma ave sem destino" (...) "Oremos pela rês que se perdeu". E o irônico, pungente: "Dize, Senhor, de quantas somos, se todo o teu redil há de salvar-se.". O que está "detrás da porta" - é o silêncio que tambem sabe habitá-la, é a inquietude que se engendra, ainda que seja forma de felicidade. Possui o raro dom de inventar-se, inventando futuros leitores, que saberão quem é o seu poeta.


( Texto de orelha do livro "Outro sol", assinado por Carlos Nejar, 2004. Edições FUNALFA, Juiz de Fora, Minas Gerais).


BREVE BIOGRAFIA:
Júlio César Polidoro nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 29 de julho de 1959. Trabalha na Universidade Federal de Juiz de Fora, onde cursou Filosofia. Participou das edições que marcaram época na década de 80: Folheto Abre Alas e Revista D'Lira. Tem publicados os livros:

  • Treze poemas essenciais (1979);

  • Pequenos assaltos (1990);

  • Orla dos signos (2001);

  • Outro sol (2004).
Tem diversos trabalhos publicados em antologias do Brasil e exterior. Confira alguns poemas do seu livro "Outro sol":


construir a ordem pelo avesso
de toda formal estrutura
fomentar constante ruptura
entre o que imagina e o que teço.


uno estilhaços do arremesso:
nenhuma unidade se apura -
recolho a imagem sem figura
de um fim que assoma do começo.


assim elevo esse edifício
erguido sobre o precipício:
é falso todo qualquer lastro.
a obra que acabo não termina
eterno dia que rumina
e segue o seu próprio rastro.
(Júlio Polidoro, "Outro sol", 2004)




ADUANA
retidos com a bagagem
em cada porto ficamos


quem ruma
é aquele que perdemos


a passagem é dolo
parada
de alguém que não somos


da esquadra que avança e não parte
a aduana retém
o faz-de-conta da sorte.
(Júlio Polidoro, "Outro sol", Juiz de Fora, 2004)
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juliocpolidoro.vilabol.uol.com.br